Nunca fui pessoa de magoar outrém por dá cá aquela palha...
Esta é possivelmente, a entrada mais pessoal neste blog. À quantidade de comments que tenho tido apercebo-me que não é com um blog que vou fazer valer todos os meus sonhos de reconhecimento social e de fama, mas enfim, talvez seja melhor assim... Posso falar à vontade, nem que seja só comigo... Voltando ao início.
Sou meio vampírico nas dores que provoco. não consigo deixar de provocar dor sem que prove, em raros mas longos sorvos, um pouco da mesma... Não gosto de, e talvez por isso o evite tanto, provocar qualquer tipo de dor a quem quer que seja.
Aqui há coisa de três anos fui obrigado a provocar uma dor, que foi ripostada por uma dor pior, mas que soube a mel porque me permitiu alguma crueldade explosiva na dor que tinha a provocar... soube-me bem, basicamente. Permitiu-me um laivo de sorriso mórbido, sentir escuridão a pulsar em mim, a acumular-se, a gerar pressão sobre as minhas cordas vocais e a apertar-me o coração a um tamanho quase unicelular - é preciso o coração ficar deste tamanho para que me torne permeável ao hábito vampírico de provar as dores que provoco - para depois erguer-me com fogo nos olhos e asas de chama e eclipsar o meu alvo em fúria e crudelidade....
Depois, como a areia que permanece molhada na praia após a passagem da onda e que nunca chega a secar-se porque a seguinte não deixa, senti-me livre e poderoso. Grande em mim e Senhor do meu mundo interior, da grande fortaleza inexpugnável que é a minha mente... Enterrei o cadáver pelo qual era responsável, não o escondi, penso até que fiz questão que se soubesse pelas marcas e sinais óbvios, e ainda com o sangue nas mãos voei para nova luz... Oh, voei sim, os meus pés não tocaram o tão inútil solo! Não fui carregado pelo vento, empurrei-o à minha frente para que me não atrasasse mais do que o que já estava... E vi-a.
Sentei-me a seu lado, talvez ainda a cheirar a enxofre, e mostrei-lhe as minhas mãos. A luz apercebeu-se perfeitamente do que eu tinha feito.... aos poucos vinha-o anunciando, procurando secretas anuências, ocultas permissões, paulas concordâncias..... tinha de o fazer. Chegou ao ponto em que era um imperativo categórico, algo justificado como facto tautológico senão por mais!...
Olhou-me nos olhos, como Deus, a existir, deverá olhar nos olhos do pecador que não se arrepende mas pede o Seu perdão. Os meus olhos ainda deveriam estar rubros, como a brasa do carvão que permanece longo tempo incandescente após toda a carne estar assada, sem remorsos, sem prisões, sem medo qualquer a toldá-los nas suas intenções e vi na luz uma asa a precisar de vento, uma flor a necessitar de água e uma mingada estrela que pedia fogo.
Numa rápida introspecção vasculhei em mim, em recônditos cantos, os ingredientes que faltavam àquela luz para brilhar. Tive de apagar as chamas negras reminiscentes porque não era este o fogo que ela precisava, este era sulfúrico. Agora me ocorre que nunca mais libertei o Inferno em mim.... e para quê? Num impulso, enquanto ainda buscava em mim as capitais essências a pagar como tributo, a luz chamou-me a atenção e com um beijo selou-me em si para a eternidade, como um djinn numa qualquer lâmpada, tapete ou anel.
Hoje os meus grilhões são de ouro, uso as correntes que me atam e me ligam à minha luz para estrangular qualquer ameaça que ousem insinuar-lhe. Por vezes, quando tento voar mais alto, quando me esqueço do que me alimenta, quando tento acrescentar elos às correntes para me afastar um pouco sinto-a pulsar, frágil e branda... É então que me apercebo que abdiquei já do meu corpo, que minhas asas são etéreas, que não sou já matéria e que minha existência enquanto eu depende apenas da minha luz.... Deixo-me ficar.
Tudo isto começou apenas há três anos e no que me concerne, poderá ficar gravado para sempre num qualquer lugar perene.....
Comentários
Beijinhos
Eu não seria o chefe. para posteriores informações vê o post seguinte.