É atirada ao material uma criança... Um bebé que viria a ser uma criança... À carne, ao físico, ao tempo e espaço.
Depois, contextualiza-se e integra-se essa criança num todo... Um grupo de condicionantes e fatores de como é suposto ser tudo. Um status quo inescapável de outros seres semelhantes que surgiram antes... Expectativas, padrões, normalidades, regras e o indivíduo neófito submete-se naturalmente à força passiva dos tantos contra nada, como se não houvesse qualquer violência envolvida.
Não é explicada qualquer existência de quebras ou excepções ao padrão... Até o indivíduo se aperceber que é, ele próprio, uma excepção em algo... Há nele uma latente fuga às normas e não sabe que a fuga às normas é em si mesma normal...
Este é o primeiro conflito real do ser: admitir-se excepção ou refutar-se enquanto tal.
A uma criança contextualizada no tácito contato social e sobreimposto status quo, ser a excepção em algo fundamental como, digamos, um núcleo familiar standardizado, constitui um inescapável obstáculo de absurda abordagem. A resposta simples ao existencial "de onde vimos" não se cumpre senão no teórico, no abstrato, no empírico... Na aceitação de opinião ou noção alheia. E quando essa vítima da excepção se recusa a aceitar o caráter passivo que lhe é imposto de que nada pode fazer para se excluir da excepção, quando mais que a aceitar a impõe num simulacro de imposição por vontade própria algo que lhe foi em verdade imposto, decorre de imediato um abraço de, mais que aceitação, desejo de reconhecimento pelo alegado esforço em se eximir do papel de vítima. Uma elementar injustiça imposta por este ser para compensar e justificar uma injustiça que não chega a ser e que lhe foi imposta.
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