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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2010

Humildade

Soube que tinha deixado de ser uma criança não quando disse "obrigado" mas quando me apercebi do obrigado que estava a agradecer por algo que me deram, que fizeram para mim, que fizeram por mim, que me disseram... Algo que, mesmo que não tivesse nada que se relacionasse directamente comigo, me fizesse sentir um misto de dívida e gratidão para com a pessoa que praticou aquele acto em específico. Soube que tinha deixado de ser um miúdo não quando disse "amo-te" mas quando me consciencializei que aquelas palavras assinavam um tratado, um acordo subreptício de fidelidade, respeito, exclusividade não de atenção mas de um certo nível de atenção; aquelas palavras eram um joelho em terra e a entrega da espada; "nunca a erguerei senão por ti, nunca a erguerei contra ti". Mais ainda. Eram tão mais poderosas por conterem todo este significado concentrado que quando uma parte deste juramento abandonou o meu coração, deixei de poder proferi-las. Soube que me tinha
"Um dia, quem sabe um dia, possa mandar tudo às urtigas. Deixar de ser o palhaço de quem se esqueceu de se rir, deixar de ser o filho ideal dos pais que nunca tive, deixar de ser o amigo preocupado quando em minha natureza está a negligência. Talvez passe a preocupar-me menos com o que os outros pensam ou dizem de mim, importantes ou não, para passar a fazer apenas o que a minha vontade egoísta me pede. É possível que comece a recusar o esforço de estar, de falar, de perceber, de me colocar na pele do outro que tanta dificuldade tem de se pôr na minha. Pode ser que deixe de querer saber se me consideram isto ou aquilo e que comece a alegar que à minha volta só está quem faz falta... É altamente provável que comece a sobrevalorzar-me na ausência de alguém, justificando a ausência dessa pessoa com argumentos inúteis ou vagos como "era uma fonte de preocupações sem sentido" ou que comece mesmo a mentir-me claramente dizendo que "para complicações bastam as minhas"

Desculpa

Houve uma altura em que o que era deixou de o ser... Depois, apercebi-me que tinha deixado de ser o que era. Depois fiquei preocupado por ter deixado de ser o que era e perguntei-me o porquê de isso ter acontecido. Depois reparei que a minha preocupação por ter deixado de ser o que era e o motivo de me perguntar do porquê de isso ter acontecido se prendiam ambos com uma saudade imensa de ser outra coisa que não aquilo que me tinha tornado, mas, se possível, aquilo que fora antes. Houve uma altura em que precisei de saber o que fora antes. Vi sonhos que não eram sonhos, planos que não eram planos e uma vida que não era vida e no entanto... No entanto, tudo isso era eu e o meu avião azul e amarelo, e o meu carro branco chamado Soneca, e a minha Milú com a minha Guziluz... Os meus carros perfeitamente alinhados e organizados não por marca nem por idade mas pelas marcas que a falta de cuidado lhes deixou. Os meus Playmobil, organizados por tema. Os meus Lego para construções e sonhos ima

Recompensa

Se valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena... Tudo vale a pena se a recompensa é um sorriso maior que os lábios, um brilho maior que os olhos, um palpitar maior que o peito.... Se compensa subir a montanha, mergulhar no abismo? Se a caminhada no deserto ao calor do dia e ao frio da noite... Se a sede e a fome sem o mana divino...  Se o cansaço e a exaustão de esforços inomináveis, quando até a própria esperança nos abandona, traz mais algum fruto além das lágrimas e das dores infindas? Ah sim... Tudo vale a pena quando após tudo isto o calor dos nossos braços serve não para nos aquecer e não a nós próprios mas para aconchegar por quem lutamos. Todo o cansaço se desvanece quando, mais do que lutarmos por nós, nos apercebemos que lutamos já ao lado de alguém que tem os mesmos objectivos que nós. Todas as lágrimas e dores são ultrapassadas pela alegria da consciência do que obtivemos através e apesar delas mesmas. E o mais importante é que só chegamos onde chegamos porque n

Esperanças

Beyond the horizon of the place we lived when we were young, In a world of magnets and miracles, Our thoughts strayed constantly and without boundary. The ringing of the division bell had begun. Along the long road and on down to the causeway Do they still LIVE there by the cut? There was a ragged band that followed in our footsteps Running before time took our dreams away, Leaving the myriad small creatures trying to tie us to the ground, To a life consumed by slow decay... The grass was greener, The light was brighter, With friends surrounded, The nights of wonder... Looking beyond the embers of bridges glowing behind us, To a glimpse of how green it was on the other side, Steps taken forwards but sleepwalking back again Dragged by the force of some inner tide At a higher altitude with flag unfurled We reached the dizzy heights of that dreamed up world... Encumbered forever by desire and ambition   There's a hunger still unsatisfied. Our weary eyes still

Incolor.

Chego à conclusão que... Cor? Qual cor? Há quem diga que sou o vermelho sangue, quem diga que sou o índigo... Já fui dourado, como um anjo, prateado e acobreado... Quem me pense cristal e quem me considere breu... E o pior é que fui tudo isso... Depois chego a mim. Olho-me ao espelho e pergunto-me qual a minha cor? Qual a cor que criei para mim? Se todas as cores são actos e atitudes que tomei em relação a outros, se todas as cores que tive foram pintadas pelas mãos dos outros na minha adaptação a eles.... Quais são as minhas verdadeiras cores? O que faço eu por mim que não para me adaptar ou para corresponder a expectativas de outros? Porque é que falho, consecutivamente, a fazer algo por mim? Eu sei o que quero... acho que só me falta descobrir a cor dos meus sonhos, pintar-me dessa cor e esperar não falhar... Que essa cor me fique bem.

Caminho

Há alturas em que não há nada mais a fazer. Chegamos ao ponto em que não podemos regressar, em que não podemos avançar, em que seja qual for a direcção que tomemos teremos sempre uma parede que nos bloqueie a passagem... Olhei-me ao espelho e vi-me como os outros me veem todos os dias. Olhei-me e vi que estava vestido exactamente com as mesmas vestes. Olhei os meu olhos no reflexo e reconheci-me sem qualquer dificuldade, face nua, alma clara... Entrei dentro de minha mente e reparei que a forma exterior não era senão a reprodução do interior. Quem me visse julgar-me-ia um bom rapaz, respeitador, irreverente, extravagante, inesperado, algo brusco e confuso, mas sensato e com um saber não só de experiência feito mas também da ausência de experiências que optou por ter... Quem me visse, ver-me-ia. Onde pára a minha máscara? Terei de me confundir a mim para confundir ou outros? Terei de perder o senso de quem sou, de quem quero ser, para poder ser precisamente quem sou e quero ser? Não f