Avançar para o conteúdo principal
Passou o Natal... Entre queixas e juras de vingança a esse grande pedófilo que é na verdade o Pai Natal, lá nos fomos lentamente deixando embriagar na modorra que é a espera pelo Ano Novo.
Este Ano acabou com a minha tragédia a nível académico... Não foi propositado e quem me conhece sabe que dei mais do que o que estou habituado ou consigo mesmo dar normalmente... Fi-lo para não decepcionar ninguém, para não me decepcionar a mim, para continuar a ser o que era, para me manter o que era na mente das outras pessoas.
Sento-me aqui, nesta sala obscura, Index aberto, lamparina acesa a consumir-me o oxigénio.... Lá fora não há fogueiras... Entre as palavras ditas, escritas, gastas pelos outros e as minhas vai o espaço estipulado entre aqueles que as percebem e as denunciam, as reformulam, as interpretam, e o que ocupo, tentando percebê-las e denunciá-las, reformulá-las, interpretá-las, percebê-las, tomá-las.... Percebê-las....
Tanto esforço, a concentração de quem quer ser mais do que um papagaio, para que quem entende as palavras gastas possa dizer que sim, que também eu, por as repetir e interpretá-las como eles, entendo as palavras gastas.... A lamparina arrasta a réstea do seu pavio para a escuridão, arrasta-me a mim também....
O Ano Novo também passou. Todas as noites de Ano Novo são cruelmente iguais.... A expectativa... a contagem decrescente... a abertura do champanhe.... as passas.... Iguais. O que vem depois? Mais festa a propósito de nada pois o brinde à entrada do ano já foi feito, mas brinda-se. Festeja-se a entrada do novo ano curiosamente como se festeja qualquer outra coisa e espera-se que, mesmo sem direito a festa especial porque apanhamos a bebedeira aceitemo-lo ou não, o Ano Novo nos faça mais felizes que o anterior... Blasfémia. Entramos numa casa nova a pedir felicidade com o desplante de estarmos completamente cegos, ou com intenção de o ficar, com o álcool. O Ano Novo, ofendido, não melhora em nada as nossas vidas.... e agora que a bebedeira e a ressaca passaram... é apenas uma data, como poderia o mero facto de passar de um dia para o outro no calendário alterar dramática e significativamente uma vida? Se assim fosse, seríamos completamente idiotas se não festejássemos a passagem de mês todos os meses como festejamos a passagem de ano.... Não. Se cada dia fosse Ano Novo, se festejássemos a alvorada de cada dia não com álcool mas com uma razão para viver e com uma sincera e real importante de a cumprir, aí a nossa vida mudaria.
Mas somos comodistas, consumistas, ridículos assertistas ou assertativistas que aceitam que a vida lhes dê tudo e esperam que a vida lhes dê mais ainda sem qualquer esforço ou sacrifício em troca... Mais: estamos tão habituados a este statvs vitae que, quando uma descarga de consciência nos atinge e nos obriga de facto a trabalhar como cães para melhorá-la de facto, ficamos ofendidos e desesperados por nada se ter modificado apesar dos nossos esforços....
Eis-me. Caído no fosso da incapacidade de aceitar tão depressa o mal como o bem que a vida me traz... Eis-me às escuras porque me lamentei que a lamparina estava sem petróleo em vez de me ter levantado, agitado asas e cauda, e ter voado o mais depressa que podia com um pavio novo e mais combustível... E depois tenho a iniquidade de fazer um post acerca disso. Sou uma gárgula (porque é que o Português não tem Neutro?) má.

Comentários

jamila disse…
pois é... não muda em nada a nossa vida! mas deixa-nos continuar a pensar que sim... deixa-nos sonhar com os desejos que nesta data pedimos, por mais ridiculos que sejam... porque o ser humano é optimista e vê a passagem do ano como uma meta a alcançar, depois desta data existem novos ou os mesmos objectivos na vida... é bom sonhar... principalmente se for sonhos regados a champagne... sabe bem melhor...:P
feliz 2007!***
Unknown disse…
És cruel por expores de forma tão frontal a realidade.

É verdade que nada muda, pois no dia 31 não fazemos nada para isso. Mas ao mesmo tempo há outras coisas que não mudam e ainda bem. As amizades. Por algum motivo passas esse dia com algumas pessoas..nem todas podem ser tuas amigas, umas podem ser só conhecidas, mas certamente que outras são de grande importancia. A tua relação com elas não muda com a passagem do ano. Isso é bom não é? E o melhor é que não mudou porque nada fizeste nesse sentido ;)

Bom 2007
Micae disse…
Padynhuh! ós anos k ja n vinha ao teu blogi... Espero k tenhas passado um bom ano novo(eu tenho esperança)!
Ano Novo, amizades antigas e sentimentos k n mudam..mas isso tu ja sabes, n é? Doru-ti Padyunhuh! Luv yah a lot!!
Anónimo disse…
Embora a tua fatalidade aos teus olhos pareça tornar-te algo fragil aos olhos dos outros, continuas a mesma pessoa inteligente e genious de sempre e só nos revolta ainda mais aquilo pelo qual passas. Mas... o que não te falta, sao admiradores. Eu sei que sou uma! *
José Borges disse…
são estes momentos que nos fazem pensar. Será que vale a pena beber com desejo de tornar um divertimento ainda mais divertido? Penso que não. Aqui chamo os exageros.
A passagem de ano não muda em nada o destino das pessoas, mas é positivo ao ponto de fazer acreditar que algo é possível, mesmo difícil de realizar e de alcançar.

Mensagens populares deste blogue

parte 1

É atirada ao material uma criança... Um bebé que viria a ser uma criança... À carne, ao físico, ao tempo e espaço. Depois, contextualiza-se e integra-se essa criança num todo... Um grupo de condicionantes e fatores de como é suposto ser tudo. Um status quo inescapável de outros seres semelhantes que surgiram antes... Expectativas, padrões, normalidades, regras e o indivíduo neófito submete-se naturalmente à força passiva dos tantos contra nada, como se não houvesse qualquer violência envolvida. Não é explicada qualquer existência de quebras ou excepções ao padrão... Até o indivíduo se aperceber que é, ele próprio, uma excepção em algo... Há nele uma latente fuga às normas e não sabe que a fuga às normas é em si mesma normal...  Este é o primeiro conflito real do ser: admitir-se excepção ou refutar-se enquanto tal. A uma criança contextualizada no tácito contato social e sobreimposto status quo, ser a excepção em algo fundamental como, digamos, um núcleo familiar standardizado, constitu
"Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste... As paixões dormem , o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A mesma teia pegajosa envolve e neutraliza, e só um ruído sobreleva: o da morte, que tem diante de si o tempo ilimitado para roer. Há aqui ódios que minam e contraminam, mas, como o tempo chega para tudo, cada ano minam um palmo. A paciência é infinita e mete espigões pela terra dentro: adquiriu a cor da pedra e todos os dias cresce uma polegada. A ambição não avança um pé sem ter o outro assente, a manha anda e desanda, e, por mais que se escute, não se lhe ouvem os passos. Na aparência, é a insignificância a lei da vida. É a paciência, que espera hoje, amanhã, com o mesmo sorriso humilde: - Tem paciência – e os teus dedos ágeis tecem uma teia de ferro. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. E o
A todos quantos possa interessar, esta gárgula tem estado em clima introspectivo... A aprender algo em que seja realmente bom, a dedicar-se à escrita para posterior publicação. Só para que todos vocês, que não estando diariamente comigo se preocupam com o meu estado inundando-me com carinhosas mensagens pedindo novas, boas ou más, todos os dias, saibam que está realmente tudo bem. Raios me partam mais os devaneios...