Devido à recente actuação da Tuna, tive de andar o dia inteiro trajado para evitar aquele meu apanágio de chegar sempre atrasado...
Fui ao H.G.S.A., trajado, onde, depois de esperar hora e meia pela consulta, a médica me exclamou com um tom proverbial "pois é, você tem aqui uma auto-estrada!" referindo-se ao meu nariz enquanto que, com uma lampadinha e um instrumento próprio, me visturiava as fossas nasais... seria mais uma consulta de rotina e controlo, não estivesse eu trajado. À entrada olhou para mim com espanto e baixou os olhos antes que eu pudesse reparar em tal. Pôs as consultas feitas e as por fazer em ordem tentando olhar-me de soslaio e nos seus pensamentos corriam-lhe milhares de considerações enquanto compunha o planeamento.... "Temos doutor... da mula russa...". Eu estava demasiado perdido no interessantíssimo aparato de aparelhos e engenhocas de análise e prospecção médica para reparar nisso, obviamente. Sempre fui muito distraído!... Eventualmente e em menos de cinco minutos pôs-me a andar, não sem antes me dar o conselho "da praxe" de evitar o frio e recomendar-me cuidado ao assoar a máquina....
Daí e de impulso, lembrei-me que já estava na altura de fazer uma visita ao tosquiador. Senhor simpático, de cabelo penteado à escovinha da direita para a esquerda tentando ocultar a etária calvície... Óculos pendurados na ponta do nariz, mede-me de cima a baixo quando transponho a soleira da porta... Sorrio a atiro um jovial "bom dia" tentando ao máximo fazer com que se parecesse com um "não repare, tenho actuação, sabe?"... Pouso a capa no cabide enferrujado e sento-me numa das cadeiras de plástico, daquelas de jardim, que aqui faz as vezes daquelas próprias para a espera numa barbearia. Enquanto avia o coxo, que de inveja ou qualquer outro motivo entre grunhido e mirada vai tentando conter a baba que teima em escorrer-lhe pelo canto da boca, o já idoso barbeiro ergue-se sobranceiro... "tenho doutores a virem-me à barbearia!... ah, Carvalho, Carvalho, já és falado na Universidade!..." pensa com a tesoura e a lâmina a apararem o cabelo ralo das cãs do cliente... Por trás da revista que acompanhou o jornal do sábado passado e que ainda não tivera a oportunidade de ler também não me pude aperceber de nada disto.... Já referi que sou muitíssimo distraído?...
Chegou finalmente a minha vez. Soube-o pelo imperativo categórico do "Vamos, Doutor?" com o qual o Senhor Carvalho Barbeiro me presenteou... "Então como vai ser?"... Entretanto, chegou mais um cliente... penso que o facto de ele só cobrar 4,5€ a reformados justifica o avançado da idade da larga maioria dos clientes que lhe ocupam os dias... tive tempo para deixar a batina a fazer companhia à capa antes de me sentar na cadeira que, suponho, é bastante mais velha que a minha mãe. "Leve-me à máquina, se quiser" - digo, deixando-o à vontade - "quero é um abate razoável aí nessa floresta... assim dos lados e atrás...". Com um assertivo "sim, senhor" o senhor Carvalho toma a minha permissão por ordem e anuncia "mas vou pôr só a pente 4, senão espeta.". Meia hora depois e depois de se ter enganado a cortar-me as repas e a fazer-me a maldita da risca de forma a dividir-me o crânio ao meio, pega finalmente no espelho que surge como a bandeira axadrezada.... Juro a mim mesmo nunca mais submeter o meu cabelo a semelhante tratamento, sorrio mais uma vez e para que uma queixa não soasse a pedantismo ou arrogância por ser "Doutor", confirmo entre dentes "Excelente!"...
Corro para casa de asas ao vento, lavo o cabelo, massacro-o com a toalha deixando-o esgroviado... "vou assim" ocorre-me "vou assim à maldita da actuação!". Saio do w.c., puxo-o todo para trás com uma escova, domo-o com o cimento-gel e almoço.... Desespero... Ao menos já ninguém nota na falha da repa, assim puxado para trás. Depois do almoço a prespicácia do meu avô atira-me aos píncaros: "onde é que foste cortar o cabelo?!". "Ao teu barbeiro!", respondo." "O F*lh*-d*-P*T* deixou-te uma falha enorme aqui atrás!!!". Depois do contorcionismo tentando ver a parte de trás da minha cabeça e lamentando a falta de um segundo espelho para a poder ver, resigno-me.... "vou para a actuação..." O meu avô consola-me: "deixa 'tar q'eu à tarde vou lá falar com ele! Vai perder dois clientes!"... O senhor Carvalho manca um pouco da perna esquerda... Corta mal o cabelo a qualquer pessoa que não exija "máquina por todo a pente 4"... A culpa é minha que fui lá e não paguei os costumeiros e sacrificiais 11€ no meu barbeiro de confiança. Preferi dar 6....
Um felicíssimo Yule para todos vós!...
Fui ao H.G.S.A., trajado, onde, depois de esperar hora e meia pela consulta, a médica me exclamou com um tom proverbial "pois é, você tem aqui uma auto-estrada!" referindo-se ao meu nariz enquanto que, com uma lampadinha e um instrumento próprio, me visturiava as fossas nasais... seria mais uma consulta de rotina e controlo, não estivesse eu trajado. À entrada olhou para mim com espanto e baixou os olhos antes que eu pudesse reparar em tal. Pôs as consultas feitas e as por fazer em ordem tentando olhar-me de soslaio e nos seus pensamentos corriam-lhe milhares de considerações enquanto compunha o planeamento.... "Temos doutor... da mula russa...". Eu estava demasiado perdido no interessantíssimo aparato de aparelhos e engenhocas de análise e prospecção médica para reparar nisso, obviamente. Sempre fui muito distraído!... Eventualmente e em menos de cinco minutos pôs-me a andar, não sem antes me dar o conselho "da praxe" de evitar o frio e recomendar-me cuidado ao assoar a máquina....
Daí e de impulso, lembrei-me que já estava na altura de fazer uma visita ao tosquiador. Senhor simpático, de cabelo penteado à escovinha da direita para a esquerda tentando ocultar a etária calvície... Óculos pendurados na ponta do nariz, mede-me de cima a baixo quando transponho a soleira da porta... Sorrio a atiro um jovial "bom dia" tentando ao máximo fazer com que se parecesse com um "não repare, tenho actuação, sabe?"... Pouso a capa no cabide enferrujado e sento-me numa das cadeiras de plástico, daquelas de jardim, que aqui faz as vezes daquelas próprias para a espera numa barbearia. Enquanto avia o coxo, que de inveja ou qualquer outro motivo entre grunhido e mirada vai tentando conter a baba que teima em escorrer-lhe pelo canto da boca, o já idoso barbeiro ergue-se sobranceiro... "tenho doutores a virem-me à barbearia!... ah, Carvalho, Carvalho, já és falado na Universidade!..." pensa com a tesoura e a lâmina a apararem o cabelo ralo das cãs do cliente... Por trás da revista que acompanhou o jornal do sábado passado e que ainda não tivera a oportunidade de ler também não me pude aperceber de nada disto.... Já referi que sou muitíssimo distraído?...
Chegou finalmente a minha vez. Soube-o pelo imperativo categórico do "Vamos, Doutor?" com o qual o Senhor Carvalho Barbeiro me presenteou... "Então como vai ser?"... Entretanto, chegou mais um cliente... penso que o facto de ele só cobrar 4,5€ a reformados justifica o avançado da idade da larga maioria dos clientes que lhe ocupam os dias... tive tempo para deixar a batina a fazer companhia à capa antes de me sentar na cadeira que, suponho, é bastante mais velha que a minha mãe. "Leve-me à máquina, se quiser" - digo, deixando-o à vontade - "quero é um abate razoável aí nessa floresta... assim dos lados e atrás...". Com um assertivo "sim, senhor" o senhor Carvalho toma a minha permissão por ordem e anuncia "mas vou pôr só a pente 4, senão espeta.". Meia hora depois e depois de se ter enganado a cortar-me as repas e a fazer-me a maldita da risca de forma a dividir-me o crânio ao meio, pega finalmente no espelho que surge como a bandeira axadrezada.... Juro a mim mesmo nunca mais submeter o meu cabelo a semelhante tratamento, sorrio mais uma vez e para que uma queixa não soasse a pedantismo ou arrogância por ser "Doutor", confirmo entre dentes "Excelente!"...
Corro para casa de asas ao vento, lavo o cabelo, massacro-o com a toalha deixando-o esgroviado... "vou assim" ocorre-me "vou assim à maldita da actuação!". Saio do w.c., puxo-o todo para trás com uma escova, domo-o com o cimento-gel e almoço.... Desespero... Ao menos já ninguém nota na falha da repa, assim puxado para trás. Depois do almoço a prespicácia do meu avô atira-me aos píncaros: "onde é que foste cortar o cabelo?!". "Ao teu barbeiro!", respondo." "O F*lh*-d*-P*T* deixou-te uma falha enorme aqui atrás!!!". Depois do contorcionismo tentando ver a parte de trás da minha cabeça e lamentando a falta de um segundo espelho para a poder ver, resigno-me.... "vou para a actuação..." O meu avô consola-me: "deixa 'tar q'eu à tarde vou lá falar com ele! Vai perder dois clientes!"... O senhor Carvalho manca um pouco da perna esquerda... Corta mal o cabelo a qualquer pessoa que não exija "máquina por todo a pente 4"... A culpa é minha que fui lá e não paguei os costumeiros e sacrificiais 11€ no meu barbeiro de confiança. Preferi dar 6....
Um felicíssimo Yule para todos vós!...
Comentários
sempre ouvi dizer: " quem escolhe barato, saí-lhe caro!"... tiveste azar...com falha ou sem falha continuas a ser o meu compadre favorito... :P***
LOOOOOOOOOOLLLLLLLL
Bjux rrands