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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2010
"Doem-me as saudades de um fim que não quis e que não tive. Amarga-se-me a boca porque alguém não quis o que eu não queria. Como ousou não ter coragem e não admitir querer algo que eu não queria? E pensar que alguém esboçou com sua pena um movimento que me marcou porque a pena é mais forte que a espada... E pensar que ergui minha espada no vão intuíto de permitir que erguesses tua pena, pois bastava um rabisco para que todos os desenhos que fiz com a espada valessem a pena. Saber-te capaz de lutar por algo... Saber-te capaz de lutar uma batalha perdida que talvez pudesses ganhar mas que ficaria infeliz se ganhasses... Porque é que não lutaste e não te deste a hipótese de ganhar? Nem que me perdesse eu ou que perdesse eu esta ideia de que quem perderia eras tu, saberia ao menos que em nome dos movimentos de espada que volteei, tu ter-me-ias feito belos poemas sob a forma de gravuras victorianas. Mas não. Ousaste, sim pegar na pena. Vi-te, Deuses em que não creio, juro que te vi, mo

De mim a mim...

Sinto por vezes que não fiz até agora al que não perder. Que nada mais tive senão o que mantive até isso me abandonar... Lutar pelo que me foi dado? Conquistar o que não tinha? Tomar de ataque ou de cerco? Não... Para maldição minha tudo o que quis sempre me foi dado não tendo de lutar... Simplesmente esperando pacientemente que o destino invariavelmente se apiedasse da minha paciência e entre dó ou justiça me desse o que queria. Quando finalmente tenho de lutar, de levantar braços, de me erguer contra insolências dos fados faltam-me as forças para ser competente no que me proponho. Então sou fraco. Então recolho-me e encolho-me. Encho-me de inveja das pessoas que colhem os frutos do seu trabalho não pelos frutos mas pela coragem que tiveram de semear. A inveja tolhe-me a alma. De mingado, nanifico-me. Não me sinto em direito de reclamar o que for ou do facto de, daquela vez, o destino não se ter apiedado ou não ter ligado aos meus olhos que pediam o favor de ver a minha vontade feit

Lear

" Edmund - Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem - muitas vezes por culpa de nossos próprios excessos - pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste, velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbedos, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída a influência divina... Ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou a minha mãe sob a cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu tenho de ser violento e lascivo. Pelo pé de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardização. " SHAKESPEAR, William; Rei Lear, Acto I, Cena II

Dor

É precisa uma coragem desmesurada para se vencer a Dor. A Dor é aquele sentimento traidor que se esconde de nós e se alimenta das memórias que temos para nos atacar, que deambula entre sinapses neurais, que espera pacientemente e aguenta todos os sorrisos e todas as alegrias. A Dor arruma-se e finge-se esquecida com os amigos, quando aquela pessoa especial nos abraça, quando um dia de sol quente e céu azul mavioso nos aquece tanto o corpo quanto a alma. Mas sabemos que a Dor está lá. Impede que o sorriso atinja o tamanho que atingiu antigamente. Impede-nos os sono sem um suspiro. Inibe-nos, compele-nos, atrasa-nos e, acima de tudo, não nos permite a aurea felicidade a que a aspiramos... Como lidar com a Dor? Precisamente da mesma maneira como ela trata conosco. Traí-la e escondermo-nos dela. Quando não conseguirmos evitar sofrer por nos recordarmos de algo que nos magoa, agarrar nessa memória e combatê-la ou com memórias diametralmente opostas, ou com esperanças, na ausência de boas