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A mostrar mensagens de agosto, 2010

Livros

Tudo quanto faço é mal, é vil, é nulo. Se me atrevo a andar, minha pose é fraca, incorrecta, lassa. Tudo quanto digo é vão, é fútil, é nada. Todo o meu sentimento é imprestável e por isso o engulo... Toda a minha alma é frágil, dolente, cobarde. Sinto-me um livro que alguém comprou na esperança de encontrar em si esperanças... Pior. Sinto-me aquele livro comprado com gosto que deu as respostas que se procurava mas que ficou àquem de se explicar a si mesmo, sem glossário, sem índice remissivo. Um livro ali na prateleira que se folheia de vez em quando porque tem ilustrações de Gustave Doré... Um livro que fica bem ter na prateleira apesar de não ser encadernado a couro nem ter na capa filigrana. Um livro infantil escondido sob a capa dos Maias ou dos Lusíadas... Algo que ensina a ler quando promete ensinar a pensar. Algo que promete arte e se folheado não é mais que um livro para colorir... Todo eu sou complexamente simples, como aquela literatura light que nos dá as respostas que deve
Fui um anjo. Os anjos também caem e depois da minha queda perdi as penas... eis-me um demónio. Fui um demónio. Os demónios também se purgam e apesar do meu aspecto alcei vôo e ergui-me magestoso... Eis-me um dragão... Fui um dragão. Jurado que tinha ser indomável, fui domado e quando apresentei provas de ser algo mais caí no meu pântano infernal e perdi as asas. Eis-me um humano. Sou um humano. Sei que não posso voar porque sou humano. Sei que não tenho em mim força para me erguer. Sei que não tenho em mim pecados que não tenha já pago e que mereçam esforço. Sei que não tenho já a luz da esperança num futuro. Tempos houve em que o futuro não me importava desde que o presente compensasse e o passado não fosse um peso. Hoje, em que apenas no futuro poderia vislumbrar a completude que almejo, a força falha-me e por muito alto que salte não consigo voar. À força de sentir de novo o vento no meu cabelo e a carícia do ar sobre a minha pele, caio novamente. Sem motivos para me levantar, desta

Ainda que mal

Ainda que mal pergunte, ainda que mal respondas; ainda que mal te entenda, ainda que mal repitas; ainda que mal insista, ainda que mal desculpes; ainda que mal me exprima, ainda que mal me julgues; ainda que mal me mostre, a inda que mal me vejas; ainda que mal te encare, ainda que mal te furtes; ainda que mal te siga, ainda que mal te voltes; ainda que mal te ame, ainda que mal o saibas; ainda que mal te agarre, ainda que mal te mates; ainda assim te pergunto e me queimando em teu seio, me salvo e me dano: amor. Ainda que mal - Carlos Drummond de Andrade