Um punho na mesa. A lamparina com a luz bruxuleante de um pavio curto treme. Levanto-me e com o movimento ficam as pernas da cadeira de lado e as suas costas no chão. Ela olha-me nos olhos e eu olho os dela. Nos meus a dor, nos dela o medo, ou a indiferença, ou nenhum dos dois, ou a mistura de ambos. Olho-a nos olhos que tantas vezes vi cerrados e cerro de novo meu punho acertando em cheio no nó da tábua de madeira da mesa. A lamparina cai. A luz apaga-se.
"Nunca ergueria a mão contra ti.". Viro as costas. A luz da lua faz as vezes da lamparina apagada. Aproximo-me da parede. Na escuridão, planto os nós dos meus dedos contra a superfície com mais força do que a dor me deveria permitir. Sinto-a ao meu lado e não a vejo. Sinto-a a chorar mas não a vejo. Ela abraça o meu braço e toca-me na mão húmida. Pele rompida. Sangue cobre-me os nós dos dedos. Silêncio. Ela acaricia-me a cara e segreda-me sem palavras que vai ficar, que está, tudo bem. Ouço-lhe as lágrimas que tocam o chão. Não as sinto porque ela sabe que apesar de as conhecer e de as saber, acha por bem escondê-las.
"Nunca ergueria a mão contra ti.". Viro as costas. A luz da lua faz as vezes da lamparina apagada. Aproximo-me da parede. Na escuridão, planto os nós dos meus dedos contra a superfície com mais força do que a dor me deveria permitir. Sinto-a ao meu lado e não a vejo. Sinto-a a chorar mas não a vejo. Ela abraça o meu braço e toca-me na mão húmida. Pele rompida. Sangue cobre-me os nós dos dedos. Silêncio. Ela acaricia-me a cara e segreda-me sem palavras que vai ficar, que está, tudo bem. Ouço-lhe as lágrimas que tocam o chão. Não as sinto porque ela sabe que apesar de as conhecer e de as saber, acha por bem escondê-las.
"Não quero ser um peso para ti.". Ela rasga um pedaço de tecido da saia e da faixa faz ligadura e ata-me a mão ferida. "Não quero que me trates.". Ela levanta a lamparina. Pousa-a no lugar correcto e com um amorfo volta alumiá-la. Faz-se luz além da lua. "Não quero que me sirvas.". Ela baixa os olhos já secos depois de parar as lágrimas e sorri. "Faço o quê se não queres que faça tudo o que faço porque não sei que mais fazer?" pergunta-me. "Ama-me. Faz o que quiseres, mas fá-lo não por seres obrigada ou por dever. Cura-me e cuida-me na convalescença. Serve-me e apraz-me todos os dias. Apoia-me e ajuda-me sempre que precisar. Mas faz apenas tudo isto por me amares e, mais importante que isso, fá-lo porque o queres fazer e não por pensares que é o que deves fazer.". Sento-me novamente. Fecho os olhos e escondo-os entre os braços em cima da mesa. Sinto a mão dela, ou talvez os lábios, a dizer que me ama enquanto me toca ao de leve no cabelo. Silêncio. Estico um braço sobre a superfície de madeira e pouso simplesmente o punho, aberto, na mesa.
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