Se há coisa que fascina esta velha gárgula nas culturas humanas em geral é a mitologia, as religiões que o humano criou desde que se soube diferente do resto do Universo, para justificar essas diferenças e para explicar o próprio Universo.
Uma das histórias antigas, pagãs, na qual encontro um interesse fantástico é a do jovem Deus Balder, ou Baldur, Deus da Sabedoria e da Justiça, filho de Odin, o Pai dos Deuses e Deus Supremo, e de Friga, a Deusa da Fertilidade, da Bondade e da Maternidade. O mais fascinante nesta história é a forma como o Mal, personificado no semi-deus semi-gigante Loki, se aproveita do detalhe e da ninharia como forma de operar e de fazer valer a sua vontade.
Conta a história que Balder era um Deus bondoso e caridoso. Fazia o bem a todas as criaturas e era por todos amado em Asgard, morada dos Deuses Nórdicos. Em toda a criação não havia a quem Balder pudesse desagradar pois a Sabedoria e o Bom-senso, a Justiça e a Rectidão cabem em todos os corações. A ninguém excepto Loki, o meio irmão de Odin, Deus dos Deuses, a quem causava algum constrangimento que Balder fosse tão inacreditavelmente bom e incorruptível. Segundo Loki, nada seria imune à Morte, o Fim de Tudo, e o estado natural e comum de tudo seria a luta inglória contra a Morte que acabaria sempre por vencer. Loki tinha para si que o Caos Supremo era inevitável pois assim tinha sido no Início de Tudo e ao Caos Tudo voltaria finalmente.
Por esta altura, Balder teve numerosos pesadelos nos quais se defrontava com variadas Mortes, todas elas pouco agradáveis, o que o transtornou profundamente. Loki apercebeu-se que também Balder temia a Morte uma vez que, para os Nórdicos, também os Deuses eram mortais.
Ao ver o seu filho tão distante da saudável e comum atitude beata de paz e comunhão com o Universo, Odin e Friga aproximaram-se a fim de lhe perguntar a causa de tal perturbação. Tendo tido conhecimento dos temores do filho, Friga decidiu, em concordância com Odin, que teria de arranjar modo de defender o seu filho da Morte tornando-o invulnerável a tudo na existência.
Tocada pelo medo da perda do filho, correu por todo o Asgard pedindo a todos os Deuses que nunca agredissem ou atentassem contra Balder, pedido prontamente acedido por todos os Altos Deuses e Baixos Deuses, uma vez que todos amavam Balder. Até Loki, quando pedido, e apesar das renitências jurou "nunca agredir Balder nem por actos nem por palavras" mais por medo de represálias dos restantes Deuses do que por amor a Balder.
Tendo o próprio Loki jurado, Friga partiu então para a Terra e exigiu que todos os seres vivos e não-vivos jurassem nunca prejudicar ou ferir Balder. As pedras juraram, os metais juraram, todas as árvores das florestas juraram, bem como todos os animais conhecidos e desconhecidos. O fogo jurou, a água jurou, ar e terra também juraram. Porém, Friga negligenciou o pequeno visco que de pequeno e tenro nunca poderia inflingir dano de maior a Balder e voltou a Asgard em paz consigo própria e com a boa nova de que o seu filho não mais tinha de temer qualquer Morte. Mas Loki seguiu Friga na sua demanda, escondido, e apercebeu-se da negligência da Mãe em relação ao pequeno visco.
Não tardou que um novo passatempo passasse a fazer parte dos dias na morada dos Deuses. Estes reuniam-se por vezes em volta de Balder e tentavam agredi-lo de todas as formas possíveis. Traziam as melhores espadas forjadas nas melhores forjas e com elas tentavam agredir Balder apenas para se espantarem com a forma como ou o metal se desviava ao último segundo ou se partia e resvalava no corpo de Balder sem lhe chegar a tocar. De longe, pegavam em fisgas e em fundas e com elas atiravam pedras de vários tamanhos a velocidades incríveis contra Balder mesmo quando este não estava a ver, mas as pedras falhavam sempre o alvo e mesmo aquelas que se aproximavam mais do jovem Deus desfaziam-se em areia em pó sem que Balder sequer se apercebesse delas. E o mesmo era válido para toda e qualquer coisa que tentassem fazer ao bom Deus que, por já não temer qualquer mazela ou vulnerabilidade, aceitava qualquer coisa que o desafiassem a fazer e servia mesmo, de bom grado, de alvo para que os Deuses pudessem praticar os seus tiros. Isto criou a ideia de que a Justiça e a Sabedoria seriam imunes a qualquer agressão que lhes fosse dirigida.
Mas Loki não suportava que Balder fosse tão despreocupado em relação à Morte e acusava-o, na sua cabeça, de arrogância e pretenciosismo, uma vez que Loki era egoísta e invejoso. Então pegou num ramo do negligenciado visco e com ele fez uma espécie de seta. Sabia, no entanto, que o seu juramento o impedia de atirar aquela seta contra Balder pois fá-lo-ia co o propósito de o matar. Por isso, foi ter com Hodr, o Deus cego, Deus da Ignorância e da Inocência e irmão de Balder, e cheio de malícia perguntou-lhe porque não se juntava aos seus pares, os Deuses, a atirar algo a Balder, já que toda a gente parecia divertir-se tanto com tal passatempo. Hodr jurara também não prejudicar Balder como todos os outros Deuses, mas sabia que o seu irmão era imune a todas as coisas. Infelizmente Friga não avisara ninguém do seu lapso em relação ao visco e apenas Loki tinha conhecimento deste pequeno detalhe. Assim, Hodr colocou a seta de visco que Loki lhe dera no arco e guiado por este último, apontou-a a Balder que, confiante na sua invulnerabilidade, não se desviou.
Infelizmente, a seta da Ignorância guiada pela Malícia e feriu mortalmente a Justiça e a Sabedoria demasiado confiantes em si próprias. Todos os Deuses tentaram por todos os meios que conheciam salvar Balder com medicamentos e curas mas nenhuma das partes das mezinhas que criavam para desinfectar a ferida de Balder tocava no corpo do jovem Deus em virtude do juramento feito. Balder acabou por falecer devido à ferida provocada por aquele ramo de visco.
Odin foi então procurar o responsável pela morte de Balder, mas não pôde nem culpar Hodr pois este não sabia o que tinha feito, nem achar provas de que Loki sabia que Balder era vulnerável ao visco.
Inconsolável pelo seu erro, Friga decidiu então pedir a Hermodr, o Guia e Guardião dos Mortos, que trouxesse o seu filho de volta de Valhalla para Asgard uma vez que todos os Deuses estavam inconsoláveis com a perda de Balder. Este aceitou de bom grado o pedido de Friga e recebeu como empréstimo de Odin, para maior celeridade na sua missão, Sleipnir, o corcel de oito patas mais rápido que qualquer outra coisa viva. Tendo a mensagem passado a Hel, o Deus da Morte, este concordou com o regresso de Balder ao Mundo dos Vivos se todas as coisas concordassem em chorar uma lágrima por ele. Friga correu novamente todo o Reino dos Deuses e o dos humanos pedindo a tudo que vertesse uma lágrima para que Balder voltasse à vida.
Sabendo desta nova demanda, Loki decidiu esconder-se de forma a que ninguém o chateasse, uma vez que considerava a morte de Balder justa e natural nem que como punição servisse para a alegada arrogância de que o acusava. Tendo Friga recolhido uma lágrima de tudo ao cimo da Terra, Deuses e humanos, seres vivos e não-vivos, incluíndo do próprio visco e de Hodr, um dos primeiros a chorar a morte do irmão, Odin reparou que faltava a lágrima de Loki e partiu em busca dele. Acabou por encontrá-lo refugiado numa caverna com a sua filha, a serpente gigante cujo corpo estabelece as fronteiras de Midgard, o Reino dos humanos, e exigiu de Loki uma lágrima por Balder. Tendo Loki recusado chorar por Balder por achar justa a sua morte, Odin apercebeu-se que tinha sido o semi-deus o responsável pela morte do seu filho. Atacou-o então com a sua espada ferindo-o mortalmente e prendeu Jormundgand, a serpente, de forma a que esta derramasse o seu veneno sobre a ferida dando a Loki uma morte lenta e agoniante.
Ainda hoje Loki se encontra nessa caverna sem que a Serpente consiga evitar derramar o seu veneno na ferida do seu pai. Sempre que Loki se queixa com a dor, Jormundgand tenta debater-se da sua posição para evitar a aflição de Loki e é esta a causa dos tremores de terra, para os vikings, uma vez que os pilares da terra se mexem com o movimento da serpente.
Um dia chegará e que Loki morrerá, finalmente, indo instaurar o Caos no Reino dos Mortos, Nilfheim. Este será o início do Ragnarok, o fim do Mundo, a última batalha, em que Loki comandará as legiões de mortos para tomar o mundo dos vivos, soltará a sua filha, a serpente, que devorará os Deuses e todas as criaturas e monstros infernais.
O fim-do-mundo virá quando a Sabedoria e a Justiça morrerem. Não me parece que esteja muito distante... Algo me diz até que a Ignorância até já lançou a seta.
Uma das histórias antigas, pagãs, na qual encontro um interesse fantástico é a do jovem Deus Balder, ou Baldur, Deus da Sabedoria e da Justiça, filho de Odin, o Pai dos Deuses e Deus Supremo, e de Friga, a Deusa da Fertilidade, da Bondade e da Maternidade. O mais fascinante nesta história é a forma como o Mal, personificado no semi-deus semi-gigante Loki, se aproveita do detalhe e da ninharia como forma de operar e de fazer valer a sua vontade.
Conta a história que Balder era um Deus bondoso e caridoso. Fazia o bem a todas as criaturas e era por todos amado em Asgard, morada dos Deuses Nórdicos. Em toda a criação não havia a quem Balder pudesse desagradar pois a Sabedoria e o Bom-senso, a Justiça e a Rectidão cabem em todos os corações. A ninguém excepto Loki, o meio irmão de Odin, Deus dos Deuses, a quem causava algum constrangimento que Balder fosse tão inacreditavelmente bom e incorruptível. Segundo Loki, nada seria imune à Morte, o Fim de Tudo, e o estado natural e comum de tudo seria a luta inglória contra a Morte que acabaria sempre por vencer. Loki tinha para si que o Caos Supremo era inevitável pois assim tinha sido no Início de Tudo e ao Caos Tudo voltaria finalmente.
Por esta altura, Balder teve numerosos pesadelos nos quais se defrontava com variadas Mortes, todas elas pouco agradáveis, o que o transtornou profundamente. Loki apercebeu-se que também Balder temia a Morte uma vez que, para os Nórdicos, também os Deuses eram mortais.
Ao ver o seu filho tão distante da saudável e comum atitude beata de paz e comunhão com o Universo, Odin e Friga aproximaram-se a fim de lhe perguntar a causa de tal perturbação. Tendo tido conhecimento dos temores do filho, Friga decidiu, em concordância com Odin, que teria de arranjar modo de defender o seu filho da Morte tornando-o invulnerável a tudo na existência.
Tocada pelo medo da perda do filho, correu por todo o Asgard pedindo a todos os Deuses que nunca agredissem ou atentassem contra Balder, pedido prontamente acedido por todos os Altos Deuses e Baixos Deuses, uma vez que todos amavam Balder. Até Loki, quando pedido, e apesar das renitências jurou "nunca agredir Balder nem por actos nem por palavras" mais por medo de represálias dos restantes Deuses do que por amor a Balder.
Tendo o próprio Loki jurado, Friga partiu então para a Terra e exigiu que todos os seres vivos e não-vivos jurassem nunca prejudicar ou ferir Balder. As pedras juraram, os metais juraram, todas as árvores das florestas juraram, bem como todos os animais conhecidos e desconhecidos. O fogo jurou, a água jurou, ar e terra também juraram. Porém, Friga negligenciou o pequeno visco que de pequeno e tenro nunca poderia inflingir dano de maior a Balder e voltou a Asgard em paz consigo própria e com a boa nova de que o seu filho não mais tinha de temer qualquer Morte. Mas Loki seguiu Friga na sua demanda, escondido, e apercebeu-se da negligência da Mãe em relação ao pequeno visco.
Não tardou que um novo passatempo passasse a fazer parte dos dias na morada dos Deuses. Estes reuniam-se por vezes em volta de Balder e tentavam agredi-lo de todas as formas possíveis. Traziam as melhores espadas forjadas nas melhores forjas e com elas tentavam agredir Balder apenas para se espantarem com a forma como ou o metal se desviava ao último segundo ou se partia e resvalava no corpo de Balder sem lhe chegar a tocar. De longe, pegavam em fisgas e em fundas e com elas atiravam pedras de vários tamanhos a velocidades incríveis contra Balder mesmo quando este não estava a ver, mas as pedras falhavam sempre o alvo e mesmo aquelas que se aproximavam mais do jovem Deus desfaziam-se em areia em pó sem que Balder sequer se apercebesse delas. E o mesmo era válido para toda e qualquer coisa que tentassem fazer ao bom Deus que, por já não temer qualquer mazela ou vulnerabilidade, aceitava qualquer coisa que o desafiassem a fazer e servia mesmo, de bom grado, de alvo para que os Deuses pudessem praticar os seus tiros. Isto criou a ideia de que a Justiça e a Sabedoria seriam imunes a qualquer agressão que lhes fosse dirigida.
Mas Loki não suportava que Balder fosse tão despreocupado em relação à Morte e acusava-o, na sua cabeça, de arrogância e pretenciosismo, uma vez que Loki era egoísta e invejoso. Então pegou num ramo do negligenciado visco e com ele fez uma espécie de seta. Sabia, no entanto, que o seu juramento o impedia de atirar aquela seta contra Balder pois fá-lo-ia co o propósito de o matar. Por isso, foi ter com Hodr, o Deus cego, Deus da Ignorância e da Inocência e irmão de Balder, e cheio de malícia perguntou-lhe porque não se juntava aos seus pares, os Deuses, a atirar algo a Balder, já que toda a gente parecia divertir-se tanto com tal passatempo. Hodr jurara também não prejudicar Balder como todos os outros Deuses, mas sabia que o seu irmão era imune a todas as coisas. Infelizmente Friga não avisara ninguém do seu lapso em relação ao visco e apenas Loki tinha conhecimento deste pequeno detalhe. Assim, Hodr colocou a seta de visco que Loki lhe dera no arco e guiado por este último, apontou-a a Balder que, confiante na sua invulnerabilidade, não se desviou.
Infelizmente, a seta da Ignorância guiada pela Malícia e feriu mortalmente a Justiça e a Sabedoria demasiado confiantes em si próprias. Todos os Deuses tentaram por todos os meios que conheciam salvar Balder com medicamentos e curas mas nenhuma das partes das mezinhas que criavam para desinfectar a ferida de Balder tocava no corpo do jovem Deus em virtude do juramento feito. Balder acabou por falecer devido à ferida provocada por aquele ramo de visco.
Odin foi então procurar o responsável pela morte de Balder, mas não pôde nem culpar Hodr pois este não sabia o que tinha feito, nem achar provas de que Loki sabia que Balder era vulnerável ao visco.
Inconsolável pelo seu erro, Friga decidiu então pedir a Hermodr, o Guia e Guardião dos Mortos, que trouxesse o seu filho de volta de Valhalla para Asgard uma vez que todos os Deuses estavam inconsoláveis com a perda de Balder. Este aceitou de bom grado o pedido de Friga e recebeu como empréstimo de Odin, para maior celeridade na sua missão, Sleipnir, o corcel de oito patas mais rápido que qualquer outra coisa viva. Tendo a mensagem passado a Hel, o Deus da Morte, este concordou com o regresso de Balder ao Mundo dos Vivos se todas as coisas concordassem em chorar uma lágrima por ele. Friga correu novamente todo o Reino dos Deuses e o dos humanos pedindo a tudo que vertesse uma lágrima para que Balder voltasse à vida.
Sabendo desta nova demanda, Loki decidiu esconder-se de forma a que ninguém o chateasse, uma vez que considerava a morte de Balder justa e natural nem que como punição servisse para a alegada arrogância de que o acusava. Tendo Friga recolhido uma lágrima de tudo ao cimo da Terra, Deuses e humanos, seres vivos e não-vivos, incluíndo do próprio visco e de Hodr, um dos primeiros a chorar a morte do irmão, Odin reparou que faltava a lágrima de Loki e partiu em busca dele. Acabou por encontrá-lo refugiado numa caverna com a sua filha, a serpente gigante cujo corpo estabelece as fronteiras de Midgard, o Reino dos humanos, e exigiu de Loki uma lágrima por Balder. Tendo Loki recusado chorar por Balder por achar justa a sua morte, Odin apercebeu-se que tinha sido o semi-deus o responsável pela morte do seu filho. Atacou-o então com a sua espada ferindo-o mortalmente e prendeu Jormundgand, a serpente, de forma a que esta derramasse o seu veneno sobre a ferida dando a Loki uma morte lenta e agoniante.
Ainda hoje Loki se encontra nessa caverna sem que a Serpente consiga evitar derramar o seu veneno na ferida do seu pai. Sempre que Loki se queixa com a dor, Jormundgand tenta debater-se da sua posição para evitar a aflição de Loki e é esta a causa dos tremores de terra, para os vikings, uma vez que os pilares da terra se mexem com o movimento da serpente.
Um dia chegará e que Loki morrerá, finalmente, indo instaurar o Caos no Reino dos Mortos, Nilfheim. Este será o início do Ragnarok, o fim do Mundo, a última batalha, em que Loki comandará as legiões de mortos para tomar o mundo dos vivos, soltará a sua filha, a serpente, que devorará os Deuses e todas as criaturas e monstros infernais.
O fim-do-mundo virá quando a Sabedoria e a Justiça morrerem. Não me parece que esteja muito distante... Algo me diz até que a Ignorância até já lançou a seta.
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