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Do porto seguro

Há dias cinzentos em que a chuva e o vento agreste empurram vagas negras contra os paredões...
Dias em que as gaivotas abandonaram a costa e fugiram para alto mar, para longe da tormenta. Nesses dias, as argolas de metal às quais estão presas as cordas que prendem os barcos agitam-se e tinem como os leves e pequenos anéis de ouro ao tocar no chão quando caem.
Nesses dias eu temo que o paredão não aguente... Que a água do porto se agite e invada casas e lojas, tamanhas as ondas que se esmagam contra o muro. Temo que o paredão rua a cada partida de um barco por falta de utilidade... e temo que se sinta inútil na protecção dos barcos que dentro dele procuram abrigo quando a tormenta invade as costas....
Dizem que é um porto seguro. Eu digo que é apenas um porto... Mais frágil e inseguro do que parece... e que o que o torna seguro é a fé dos barcos que amaram, que atam as suas amarras ao paredão confiando na sua protecção, e que se encolhem para se abrigar de ventos e vagas, tormentas e tempestades. É o facto de os barcos constantemente sussurrarem ao porto que ele é seguro que o torna seguro. É a necessidade que o porto tem desse sussurro que prova que a sua segurança não é constante.
Porque a ameaça da nulidade é o vento que uiva ao abater-se contra as paredes do paredão do porto. Porque cada vez que o barco parte para pescar, porque é natureza dos barcos não ficarem eternamente presos no porto, o porto sente falta do sussurro que cala o uivo do vento.

Comentários

aldasilva disse…
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