Quando o Homem ainda não era bem Homem, uma criatura viu uma fruta. Pela fome, quis comê-la. Outra criatura viu a mesma fruta e da mesma fome também a quis comer. Isso não fez de nós humanos mas prendeu o animal que luta por comida e supremacia em nós. Na primeira contenda de mãos e pés, ganhou quem usou a pedra e a rocha.
Quando o Homem se aproximou do Homem, já tinha aprendido a fazer o seu ninho perto das frutas e a devolver o resto do que não comia à Mãe-Terra para que Ela lhe devolvesse mais e mais fruta, mais e mais cereais, mais e mais pasto para os animais que (já não) tínhamos de caçar; outro Homem que já sabia tudo o que era necessário à sobrevivência do Clã viu a fruta, os cereais e o gado e quis- los para os seus. Num combate de pedras e paus ganhou quem usou a espada e o metal.
O Homem tornou-se mais Homem. Erigiu monumentos a si mesmo na forma dos Deuses que o beneficiaram. Clãs uniram-se e desuniram-se. Alianças feitas e quebradas. Nas batalhas de ferro e cavalo ganhou quem usou o fogo e a bala.
Países criados e derrubados. Já nem os Deuses são relevantes porque o Homem quer que o Homem que pensa de maneira diferente pense de maneira igual ou deixe de existir! As balas não bastam, vindas do chão, do céu ou do mar e chovem bombas!
Não bastam as bombas porque o pensamento permanece e os Deuses sentem-se insultados na nossa consciência e o Homem mata-se para matar o que considera estar errado com ele. O Homem sabe que pensar diferentemente é parte de si e odeia-se mas ainda é animal! Ainda somos animais à procura de fruta.... Como ganhamos consciência do outro esquecemo-nos da consciência do mesmo. Somos uma espécie num planeta. Só na consciência de que somos todos o mesmo deixará de haver duas partes que se destruam.
Há momentos em que, sem perceba muito bem como, um "eu" desperta em dúvida e incredulidade... É de madrugada. Pelas frinchas da persiana e através do vidro que separa o frio lá de fora do conforto de entre os cobertores, entram lâminas de luz amarela nascida do lampião do lado da rua. Do que se vê do céu, permanece escuro em conformidade com o esperado. E ele surge em mim com olhos de espanto... Acede ao eu para se reconhecer e saber quando e onde está mas é só ao que consegue chegar. Olha em volta... Analisa o que tenho ao meu redor e vê tudo... Não há malícia, nem má vontade, não há desagrado, não há desprezo... Há a admiração de não se aperceber como está onde estou.... "Como é que vim aqui parar? De onde este conforto? De onde a paz? Que foi feito ou que fiz eu para chegar a isto? De onde a força? Como a disciplina? Sorte? E para onde daqui? Como continuar? Qual a direção ou sentido? Por onde?" E um novo acesso a mim o faz sondar-me a vontade e desejos... Um t...
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