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Livros

Tudo quanto faço é mal, é vil, é nulo. Se me atrevo a andar, minha pose é fraca, incorrecta, lassa. Tudo quanto digo é vão, é fútil, é nada. Todo o meu sentimento é imprestável e por isso o engulo... Toda a minha alma é frágil, dolente, cobarde.
Sinto-me um livro que alguém comprou na esperança de encontrar em si esperanças... Pior. Sinto-me aquele livro comprado com gosto que deu as respostas que se procurava mas que ficou àquem de se explicar a si mesmo, sem glossário, sem índice remissivo. Um livro ali na prateleira que se folheia de vez em quando porque tem ilustrações de Gustave Doré... Um livro que fica bem ter na prateleira apesar de não ser encadernado a couro nem ter na capa filigrana. Um livro infantil escondido sob a capa dos Maias ou dos Lusíadas... Algo que ensina a ler quando promete ensinar a pensar. Algo que promete arte e se folheado não é mais que um livro para colorir... Todo eu sou complexamente simples, como aquela literatura light que nos dá as respostas que deveríamos suar para ter e nos ensina a vida... Aquilo que nos faz dizer "isto mudou a minha vida" e "como é que não pensei nisto antes" e "é uma bíblia para a sabedoria quotidiana"...Sinto-me alguém permanentemente fascinante para pessoas novas porque quem já me folheou sabe que não passo do bê-á-bá imposto a meninos... Menos que isso... Sou aquela composição de uma criança de 8 anos que se cola no frigorífico. Aquela que quando se lê dez anos mais tarde se sorri e se pensa "ridícula"...
Ainda me admiro que alguém me tenha na prateleira...? Provavelmente deveria sentir-me cheio de sorte por não ir parar ao ecoponto onde talvez pudesse ter melhor utilidade como uma futura saca da Zara ou de outra loja qualquer....

Comentários

aldasilva disse…
Não te admires. Salvaguarda isso e melhora, valoriza-te. É isso que te está a faltar.

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