Fui um anjo. Os anjos também caem e depois da minha queda perdi as penas... eis-me um demónio. Fui um demónio. Os demónios também se purgam e apesar do meu aspecto alcei vôo e ergui-me magestoso... Eis-me um dragão... Fui um dragão. Jurado que tinha ser indomável, fui domado e quando apresentei provas de ser algo mais caí no meu pântano infernal e perdi as asas. Eis-me um humano. Sou um humano. Sei que não posso voar porque sou humano. Sei que não tenho em mim força para me erguer. Sei que não tenho em mim pecados que não tenha já pago e que mereçam esforço. Sei que não tenho já a luz da esperança num futuro. Tempos houve em que o futuro não me importava desde que o presente compensasse e o passado não fosse um peso. Hoje, em que apenas no futuro poderia vislumbrar a completude que almejo, a força falha-me e por muito alto que salte não consigo voar. À força de sentir de novo o vento no meu cabelo e a carícia do ar sobre a minha pele, caio novamente. Sem motivos para me levantar, desta vez....
Há momentos em que, sem perceba muito bem como, um "eu" desperta em dúvida e incredulidade... É de madrugada. Pelas frinchas da persiana e através do vidro que separa o frio lá de fora do conforto de entre os cobertores, entram lâminas de luz amarela nascida do lampião do lado da rua. Do que se vê do céu, permanece escuro em conformidade com o esperado. E ele surge em mim com olhos de espanto... Acede ao eu para se reconhecer e saber quando e onde está mas é só ao que consegue chegar. Olha em volta... Analisa o que tenho ao meu redor e vê tudo... Não há malícia, nem má vontade, não há desagrado, não há desprezo... Há a admiração de não se aperceber como está onde estou.... "Como é que vim aqui parar? De onde este conforto? De onde a paz? Que foi feito ou que fiz eu para chegar a isto? De onde a força? Como a disciplina? Sorte? E para onde daqui? Como continuar? Qual a direção ou sentido? Por onde?" E um novo acesso a mim o faz sondar-me a vontade e desejos... Um t...
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