Avançar para o conteúdo principal
Como tendes estado?

Lamento a minha ausência. A minha Torre esteve a sofrer algumas remodelações...

Visitas?

Não, lamento. Acabaram as entradas à borla.
Não desço mais da minha Torre para ajudar alguém a entrar e a ver o seu interior... A partir de agora, que suba a parede escarpada quem conseguir..

................................................................

Hoje de manhã tive um sonho.
Subia uma parede de uma fachada de uma casa velha.
A porta tinha sido bloqueada com blocos de cimento. O seu interior tinha ruído sobre si próprio. Já não havia telhado, já não havia divisões. Da casa restava apenas a fachada cujas pedras, antes cobertas por cimento ou argamassa e agora desnudas, serviam de pontos de apoio para as minhas mãos e pés na escalada.
Subia até ao parapeito de uma janela que antes se encontrava num primeiro andar e agora se encontra apenas à mesma altura.
Acabo por espreitar pelo parapeito da janela, para dentro. Silvas. Arbustos. A Natureza tomou posse. Suponho uma ou outra ratazana e uma ou outra cobra como novos íncolas da ruína. Ao fundo, no sítio onde havia outra parede e agora não há nada, vejo crianças com as suas mochilas, na outra rua, rumando à escola.
Sento-me no parapeito. Mais miúdos dirigem-se para a escola nesta rua... Imagens da minha infância, vistas de cima.
O meu pé escorrega e solta um pouco da massa solta e seca da parede. O torrão branco desfaz-se contra o solo mas as crianças que passam abaixo não se apercebem... Eu sou uma ilusão. Não estou de facto aqui.
Com esta sensação vem outra, mais urgente... Como vou eu descer?
De cá de cima a altura parece maior e a vertigem invade-me. Começo e inclinar-me para o lado de fora tentando pendurar-me, diminuir a distância entre os pés e o chão, preparando-me para a queda.
Acordo. Tenho de ir trabalhar. Meus sonhos terão de ficar para outra manhã.

.......................................................................................................................

As gárgulas, os dragões, não têm vertigens. Seria um contrasenso de todo o tamanho uma gárgula temer as alturas, não concordam?


Devaneios.

Comentários

Anónimo disse…
olá mano. andas desaparecido sua gárgula errante. Se as gárgulas têm vertigens? Quem sabe se não as têm? Mas têm coragem para continuar a subir e a subir até atingirem o cume dos seus pensamentos e atravessar qualquer obstáculo e certamente terão a vontade de se agarrar à vida e descer ainda que com algum temor. Estes são os altos e baixos da vida humana ou não real ou nem tanto assim. bjinhos triplices )0(

Mensagens populares deste blogue

parte 1

É atirada ao material uma criança... Um bebé que viria a ser uma criança... À carne, ao físico, ao tempo e espaço. Depois, contextualiza-se e integra-se essa criança num todo... Um grupo de condicionantes e fatores de como é suposto ser tudo. Um status quo inescapável de outros seres semelhantes que surgiram antes... Expectativas, padrões, normalidades, regras e o indivíduo neófito submete-se naturalmente à força passiva dos tantos contra nada, como se não houvesse qualquer violência envolvida. Não é explicada qualquer existência de quebras ou excepções ao padrão... Até o indivíduo se aperceber que é, ele próprio, uma excepção em algo... Há nele uma latente fuga às normas e não sabe que a fuga às normas é em si mesma normal...  Este é o primeiro conflito real do ser: admitir-se excepção ou refutar-se enquanto tal. A uma criança contextualizada no tácito contato social e sobreimposto status quo, ser a excepção em algo fundamental como, digamos, um núcleo familiar standardizado, constitu
"Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste... As paixões dormem , o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A mesma teia pegajosa envolve e neutraliza, e só um ruído sobreleva: o da morte, que tem diante de si o tempo ilimitado para roer. Há aqui ódios que minam e contraminam, mas, como o tempo chega para tudo, cada ano minam um palmo. A paciência é infinita e mete espigões pela terra dentro: adquiriu a cor da pedra e todos os dias cresce uma polegada. A ambição não avança um pé sem ter o outro assente, a manha anda e desanda, e, por mais que se escute, não se lhe ouvem os passos. Na aparência, é a insignificância a lei da vida. É a paciência, que espera hoje, amanhã, com o mesmo sorriso humilde: - Tem paciência – e os teus dedos ágeis tecem uma teia de ferro. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. E o
A todos quantos possa interessar, esta gárgula tem estado em clima introspectivo... A aprender algo em que seja realmente bom, a dedicar-se à escrita para posterior publicação. Só para que todos vocês, que não estando diariamente comigo se preocupam com o meu estado inundando-me com carinhosas mensagens pedindo novas, boas ou más, todos os dias, saibam que está realmente tudo bem. Raios me partam mais os devaneios...