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Topo da torre. Vejo lá em baixo algo que me interessa..... Ganho o lanço e preparo-me para me atirar ao vento. Sinto-o no meu cabelo, na minha pele, quando salto... Sentir o vento na minha pele. Não o sinto parte de mim e estacando-me no ar. Ah...! as asas, as minhas asas!.. perdidas. Na eternidade do segundo passado no ar giro sobre mim e estico-me de volta em direcção à torre. Sabem os Deuses como, toco ainda na Torre e agarro-me na borda da berma com a ponta dos dedos. O choque do meu corpo contra a minha torre. As minhas costelas desprotegidas a embaterem em pedra. A dor. A segunda mão vai fazer companhia à primeira e ambas colaboram tentando içar-me para cima. Atrás de mim, flutuando nas correntes térmicas ascendentes, uma gárgula olha-me com uma máscara na mão. "Não queres uma mãozinha? Ou melhor, duas asinhas?". Iço-me a custo. Volto ao topo. Olho o abismo de lá de cima e foco a gárgula que entretanto voltou a empoleirar-se na borda. Chego-me a ele, a minha pele e a sua pedra tocam-se. Chego-me ao seu ouvido e como uma declaração de amor sussurrada ao ouvido de um amante, suspiro-lhe "Vai à merda."
Volto para dentro da minha torre pela portinhola do topo, desço escadas que não sabia existirem, vou acendendo archotes que, calculo, apenas existem pela minha necessidade de existirem. Vou descenco a escada em caracol até aos meus aposentos. Deito-me e descanso.
"Preciso de uma ponte sobre o Inferno."

Devaneios meus.

Comentários

B.andrade disse…
E, à medida que vais descendo, o barulho do vento confunde-te... A torre é mais alta q imaginavas. A corrente de ar surpreendente quase que te soam sussurros... Que te empurram, e ajudam a descer mais rápido q imaginavas ser possivel.
E de repente páras.
Só para ouvir com calma o suspiro desse vento...

Birds flying high
you know how I feel
Sun in the sky
you know how I feel
breze driftin' on by
you know how I feel

1 Viva para os teus Devaneios...
Dahnak disse…
Tão depressa não torno a cair da Torre... e apenas coloco o "tão depressa" antes porque sou humano e os humanos têm tendência a repetir erros inocentemente.

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parte 1

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