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Nos últimos dias de "trabalho" no ECI em que os chefes decidiram aproveitar os meus préstimos mandando-me carinhosamente para a nulidade laboral que era a tenda de brinquedos e decorações natalícias, dei-me a vários tipos de pensamentos, aos quais era propício aquele ócio forçado e remunerado...
Numa das noites em que lá estive, houve alguém que se queixou de mãos frias... ora, como eu tenho uma certa aversão a gente de mãos frias, ofereci-me prontamente para as aquecer, uma vez que, se não por al, pelo simples facto de não ter mais que fazer e querer fazer algo de útil por alguém. Obviamente que a queixosa se recusou a tocar-me nas mãos pelo que eu afirmei que não tinha de o fazer. Vá-se lá saber porquê essa vossa sociedade percepciona o toque e o contacto físico como algo a evitar... A rapariga ergueu a mão mantendo-a a pouco menos de um palmo da minha. Eu concentrei um pouco mais de calor nas mãos, habilidade adquirida após muito ócio forçado no piso -2, e ela surpreendeu-se por sentir o meu calor àquela distância.
Isso chamou a atenção de uma outra senhora, também lá empregada, que tem um filho com quase a minha idade (conforme vim a saber posteriormente) e que andava a aprender algumas técnicas de Reiki para a vida quotidiana... Eu sorri. Vi na senhora alguém que me olhava com alguma admiração e mesmo com uma certa vontade de aprender algo novo. Sem grande esforço afastei um pouco a máscara que usava para trabalhar e permiti-lhe um vislumbre da minha verdadeira face. Ela tomou-me por um Índigo, eu neguei tal. Afirmou-me então "no mínimo, Cristalino". Eu olhei-a e sorri. Qualquer recusa seria inútil dada da força da afirmação da senhora pelo que apenas sorri sem admissão nem negação.
Chegamos a ter, depois desta primeira ocasião, conversas interessantíssimas a propósito dos Deuses e de Deus, de filosofias de vida em que, sempre que explanava um pouco melhor o meu pensamento, a sentia dando-me razão e afirmando a rectidão do meu raciocínio como se fosse algo superior e mais velho que ela.
Superior não sou... Mais velho...... não sei.
Numa dessas discussões falou-se de mudanças na vida. Do que nos mantém presos a um estado de coisas. Do que será preciso para mudar radicalmente de vida. Eu disse-lhe "vontade e abnegação". "Apenas e só vontade... e mesmo sem vontade, apenas abnegação. Basta que uma pessoa decida soltar tudo o que tem da sua influência, permitir aos outros caminhos separados e distantes de si quando se aperceber que a sua influência já favoreceu os outros tudo o que podia." . Ela respondeu-me que não era assim tão fácil... que era brutalmente árdua a tarefa de remodelar a vida e de reconstruir nos escombros, partindo do princípio que seria menos difícil a de arruinar tudo o que se tem em troca de um absoluto nada. Eu disse-lhe uma das verdades que tenho aprendido: se nada tens, nada perdes. Não é difícil recomeçar se só começares... do nada, portanto. Se abdicares de tudo aquilo a que dás valor as coisas acabarão por perder o valor naturalmente e a tua vida reestruturar-se-á do nada, sem esforço. Não desejes nada e se nada tiveres não sentirás a falta de nada que te magoe.
Ela olhou-me como os apóstolos devem ter olhado Cristo e disse-me "quem me dera alcançar um dia esse estado de alma que é o teu... estás muito acima de mim, de facto.". Apenas lhe disse "não é por ver mais longe de cima de um escadote que sou superior a ti. Tudo o que preciso, o Universo traz-me... Eu amo o Universo através dos Deuses porque os Deuses são o Universo e o Universo são os Deuses. Se os Deuses não me dão algo que quero é porque não preciso dessa coisa e apenas a quero, pois tudo aquilo que preciso vem ter comigo. Assim como comigo, com todos. Pois até a escuridão mais profunda é necessária para nos dar alento na busca da luz, logo, bom e mal são, no mínimo, subjectivos e nunca absolutos.". Ela acenou com a cabeça e sorriu-me. Quase aposto que se ela me visse algures por essas ruas desse vosso Mundo me sorriria como alguém sorri ao ouvir uma Verdade inabalável.
Se quereis de facto uma verdade inabalável, posso aconselhar-vos a que vivam e vejam ou tentem ver tudo, TUDO, o que a vossa vida tem, pode ter e já teve. Aperceber-se-ão que a morte não é nada e que toda a gente no Mundo é igual a vós em problemas e soluções. Verdades inabaláveis não as posso dar. Não sou um Deus... Nem sequer um anjo... Nem mesmo um Ser de Luz, com os quais sou confundido frequentemente.
Sou uma gárgula na minha torre com demasiado tempo para pensar nos mais variados assuntos e questões.
Boas Festas a todos.

Comentários

Milai disse…
:) saudades dos teus pensamentos que me ajudaram bem em tempos a descobrir a paz na minha alma.

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