Sentei-me junto à janela virada a poente encostando o meu antebraço ao frio vidro e a minha cabeça ao meu braço... Lá fora, um tempestade apocalíptica varre os céus com fulgorosos relâmpagos e com chuvas tão fortes que quase parece que o Pai dos Judeus ensaia novo dilúvio... Dentro da minha Torre, a minha mente deambula entre o pouco que tenho de meu e o muito que me têm pedido. Sou imune à intempérie exterior.
Viro-me para dentro... de onde estou, admiro novamente a minha construção... Quase orgulhoso, não fosse o orgulho um sentimento humano, da fortaleza que criei para mim para tempos como este. Os lençóis da minha cama encontram-se desalinhados pelas noites de insónia... a minha secretária vazia do tempo que tem passado sem ser usada...
Afastei a mesa do seu costumeiro local e abro a pesada portinhola que me permite a passagem para o nível inferior. Depois da descida em pulo, aproximo-me a medo do meu Índex... Olho os meus antebraços e toco nos áureos grilhões quebrados... por momentos baixo a cabeça e tento a custo respirar fundo entre sufocados suspiros... Abro o Índex e eis que a verdade se torna factual... A cor desbotada em cinzentos... as bordas e baínhas desfeitas em farrapos... toda a minha indumentária que trago impõe-se a mim como um trapo....
Não caí da minha Torre, não... nunca. Atirei-me. Mergulhei para a fenda que se abriu junto à Torre, para as labaredas da Nulidade e para a Resignação do Vácuo... quebrei as correntes de Ouro que me mantinham, já não sei se preso se seguro... e tendo penetrado numa escuridão pré-genesíaca dei conta do quanto do que possuía era realmente meu... surpreendi-me com o quão parcas eram as minhas reais posses.
Estiquei um braço contra a parede do abismo e sulquei com as garras a sua superfície até estancar na queda.... Foi então que começou a chuva que agora às bátegas inunda o mundo exterior. Subi a íngreme parede a custo, não físico, mas espíritual, pois toda a escalada foi um constante debater para me convencer de que não merecia a queda no Inferno apesar de saber que, existindo uma justiça divina algures, provavelmente é a queda que me esperará no final.
Tendo chegado ao solo saltei o mais alto que pude e abri finalmente as asas. Batendo furiosamente contra o chicote do vento, ganhei altitude até poder voltar a entrar na minha fortaleza. À minha entrada, voltei a fechar a vidraça que deixara escancarada no mergulho.
Foi então que encostei o meu antebraço ao vidro, deixei a minha cabeça repousar contra o meu antebraço e cerrei os olhos.
Viro-me para dentro... de onde estou, admiro novamente a minha construção... Quase orgulhoso, não fosse o orgulho um sentimento humano, da fortaleza que criei para mim para tempos como este. Os lençóis da minha cama encontram-se desalinhados pelas noites de insónia... a minha secretária vazia do tempo que tem passado sem ser usada...
Afastei a mesa do seu costumeiro local e abro a pesada portinhola que me permite a passagem para o nível inferior. Depois da descida em pulo, aproximo-me a medo do meu Índex... Olho os meus antebraços e toco nos áureos grilhões quebrados... por momentos baixo a cabeça e tento a custo respirar fundo entre sufocados suspiros... Abro o Índex e eis que a verdade se torna factual... A cor desbotada em cinzentos... as bordas e baínhas desfeitas em farrapos... toda a minha indumentária que trago impõe-se a mim como um trapo....
Não caí da minha Torre, não... nunca. Atirei-me. Mergulhei para a fenda que se abriu junto à Torre, para as labaredas da Nulidade e para a Resignação do Vácuo... quebrei as correntes de Ouro que me mantinham, já não sei se preso se seguro... e tendo penetrado numa escuridão pré-genesíaca dei conta do quanto do que possuía era realmente meu... surpreendi-me com o quão parcas eram as minhas reais posses.
Estiquei um braço contra a parede do abismo e sulquei com as garras a sua superfície até estancar na queda.... Foi então que começou a chuva que agora às bátegas inunda o mundo exterior. Subi a íngreme parede a custo, não físico, mas espíritual, pois toda a escalada foi um constante debater para me convencer de que não merecia a queda no Inferno apesar de saber que, existindo uma justiça divina algures, provavelmente é a queda que me esperará no final.
Tendo chegado ao solo saltei o mais alto que pude e abri finalmente as asas. Batendo furiosamente contra o chicote do vento, ganhei altitude até poder voltar a entrar na minha fortaleza. À minha entrada, voltei a fechar a vidraça que deixara escancarada no mergulho.
Foi então que encostei o meu antebraço ao vidro, deixei a minha cabeça repousar contra o meu antebraço e cerrei os olhos.
Comentários
Não há mundo melhor para nos libertarmos...a escrita recebe-nos e molda-nos. Adorei o texto*
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito