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It's christmas all over again..

Sabem os Deuses porque cargas de água não escrevo nada há mais de mês... Sabem os Deuses que queria ter escrito algo antes mesmo do fim de ano e que abominaria passar o ano sem me dirigir às numerosas hostes de leitores sedentos do meu blog com mais um pedaço precioso da minha doutrina. Eu digo sabem os Deuses porque eu não sei...
Há dias encontrei um velho conhecido no autocarro. Um jovem com quem me vou encontrando de tempos em tempos e que me conheceu antes de as minhas asas se abrirem pela primeira vez. Alguém que me tem referenciado na sua lista pessoal como "gajo completamente marado"; sendo que essa referência me fazia juz e não vendo motivo para a alterar, comporto-me em conformidade com as expectativas predefenidas por tal. Assim sendo, ele entrou no autocarro. Fechado no seu pequeno mundo privado, obrigou-me a apresentar-lhe a minha mão antes que ele desse pela minha presença (às vezes, esforço-me tanto por parecer invisível que consigo mesmo). Conversa de autocarro... Em boa verdade, não foi bem conversa; ele tem alguma dificuldade em se exprimir e eu poupo-lhe o trabalho de se fazer entender não me calando e não esperando respostas longas ou trabalhosas quando propício.
"- Então esse natal... fixe?"
Ele respondeu...
"- Pois... é o costume, não é? Eu compreendo... O pedófilo do Pai Natal também deixou de me dar prendas quando fiz 16 anos..." - ele sorri, as pessoas à minha volta olham-me escandalizadas; uma vez que sou muito distraído e estou de costas para elas, não reparo... solto o chavão:
"- Isto,
vai-se a ver.... é dos esquilos." - Ele olha-me curioso, sem perceber. "- Dos esquilos ou dos texugos, claro está!" - completo. Ele emite um riso surdo de quem não percebe um louco mas percebe que o louco é louco.
"- Não te rias!" - digo-lhe - "Os texugos vão tomar o mundo a qualquer hora, não dia, hora!"
Ele está cada vez mais confuso e sorri, eu percebo-o e faço surgir alguma luz sobre a minha tese:
"- Que outro animal além do humano lava a fruta antes de a comer? O texugo! Ora, porque é que o humano lava a fruta? Por causa dos insecticidas e pesticidas com que os agricultores as pulverizam... Produtos que poderiam ser considerados armas químicas! Por aqui, quem é que, em todo o mundo, teme armas químicas e biológicas? Estados Unidos da América e super-potências das mais ricas e poderosas deste planeta, certo?"
Ele seguiu-me a lógica deturpada com um sorriso de princípio ao fim. Remato a síntese:
"- Os texugos têm medo de armas químicas e biológicas porque lavam a fruta, logo, são uma super-potência ultra-secreta a nível mundial; as grandes nações e culturas estão todas viradas umas contra as outras e nenhuma teme o oculto poderio bélico avassalador dos texugos, o que faz deles uma ameaça maior!"
Explanei-lhe isto de forma tão veemente que o sorriso dele caiu. Ele olhou-me nos olhos e eu li nos dele: "o gajo passou-se".
"- Mas isto sou eu que acho!... É claro que o pessoal de Washington não concorda comigo e diz que temer por temer, prefere temer o Pinguím-Imperador... «Imperador? Imperador de quê?» Eles acham que toda a Gronelândia foi tomada por um enorme exército de Pinguins todos leais e fiéis a um maior ao qual chamam «Imperador». Eu já lhes disse que estavam loucos e que prestassem atenção aos Mapaches que são primos dos Guaxinins e dos Texugos, com a agravante de já estarem bem enraizados em certas comunidades urbanas americanas.
"Não me querem ouvir, depois não digam que não os avisei!"
O jovem ria-se agora, surdamente pois não consegue dar uma gargalhada, mas em conseguindo dá-la-ia. Deixei-o descansar....
"- Então... A Popota, hã?.." - estava agora um registo mais tertúlia cor-de-rosa das tardes da Sic.
Ele ficou de novo confuso.
"- Não sabes? Foi a Leopoldina que me disse!..." - a confusão dele a aumentar. Pedi-lhe segredo mas falei num tom a que todo o autocarro me poderia ouvir:
"- A Popota é uma filha da Poputa!"- novo riso -"Não é que a gaja não descansou enquanto não separou o Rok da Rik!"
Todo o autocarro me ouvia, ninguém me falava.
"- Sim, os do Jumbo, sim! Tá bem, também me faz espécie andar uma coruja a comer um leão, mas, ei, cada um come o que gosta!..." - o rapaz escondia a cara vermelha enquanto o tronco dele se contorcia e se enclinava sobre a barriga... Riso incontrolável.
"- Ri-te, ri-te... Não foste tu que ficaste em casa sozinho na noite de Natal a tomar conta dos grifos enquanto o teu marido andava enrolado com uma balofa armada em pop-star!
"Estas merdas revoltam-me pá!" - disse-lhe eu agravando o riso dele com o mau ar sério.
"- Bem vou sair aqui... Eu desejava-te boas entradas, mas o teu cabelo não é mau e não o quero estragar."
Apertei-lhe de novo a mão e reparei que na cara vermelha os olhos dele deitaram lágrimas de riso.
Finalmente saí deixando no autocarro, tudo com mais de 40 ultrajado, com mais de 13 com um sorriso para não se rirem, e com menos de 13 tristes por terem descoberto que afinal não eram só eles os meninos especiais do Pai Natal.

A propósito: tenham cuidado com o 704, porque ele anda aí a ceifar.

Foi a minha prenda de Natal para aquela gente toda.

Comentários

blonde disse…
Acho que se fosses a minha companhia no autocarro não detestaria este meio de transporte!
e sim as hostes de leitores sedentos estavam à espera! :p

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