Avançar para o conteúdo principal
Não sei porquê ainda muita gente me confunde com um anjo...

Não o sou, não me lembro de alguma vez o ter sido, duvido que alguma vez me torne algum.

As minhas asas não são as aberrantes asas com penas dos anjos, a imitarem as pombas. As minhas asas têm apenas pele desnuda, compostas de membranas interdigitais extra-alongadas de forma a produzir alguma resistência ao vento...

A minha cauda, o leme do meu vôo, não é mais que o prolongamento de um cóccis sobredesenvolvido...

As minhas armações, marcas que fazem com que me identifiquem tantas vezes com um demónio mesmo de asas apertadas contra o corpo, são tão vulgares quantas as de qualquer homem. Não vos chocais, leitores. Todos os homens têm a parte supra-orbital com proturberâncias ósseas mais densas que os distinguem das mulheres, nas quais tais proturberâncias não existem.

Acerca da minha longa longevidade... esta é a maior ilusão. Eu apenas somo todas as vidas que já vivi, num cálculo aproximado, e chego a uma conclusiva e vetusta idade de mais de 500 anos. Mais de 1000... mais de 2000, aogra que penso nisso... Parece muito, sim, mas se qualquer um de vós se der ao trabalho de deixar de ver a Vida como a vida mas sim como a Vida realmente é, aperceber-se-ão que são tão gargúleos quanto este vosso anfitrião...

Comentários

blonde disse…
só agora li este texto... e era nesta altura que fazia uma piada sobre uma doença,mas não vou fazer...
2000 anos... I guess I have to find out,how old am I... :p
Dahnak disse…
Please, do try...

Mensagens populares deste blogue

Ele

Há momentos em que, sem perceba muito bem como, um "eu" desperta em dúvida e incredulidade...  É de madrugada. Pelas frinchas da persiana e através do vidro que separa o frio lá de fora do conforto de entre os cobertores, entram lâminas de luz amarela nascida do lampião do lado da rua. Do que se vê do céu, permanece escuro em conformidade com o esperado. E ele surge em mim com olhos de espanto... Acede ao eu para se reconhecer e saber quando e onde está mas é só ao que consegue chegar. Olha em volta... Analisa o que tenho ao meu redor e vê tudo... Não há malícia, nem má vontade, não há desagrado, não há desprezo... Há a admiração de não se aperceber como está onde estou.... "Como é que vim aqui parar? De onde este conforto? De onde a paz? Que foi feito ou que fiz eu para chegar a isto? De onde a força? Como a disciplina? Sorte?  E para onde daqui? Como continuar? Qual a direção ou sentido? Por onde?" E um novo acesso a mim o faz sondar-me a vontade e desejos... Um t...
Eu levo a bordoada. Calo.  Se consigo digerir, se a bordoada é pequena, sacudo o pó e sigo. Se não consigo, disfarço a dor.  Escondo-a no meu cérebro atrás de outros químicos, Dou covardemente tempo à minha mente tempo para não reagir, Oculto a reação em algo, seja o que for, desde que me ocupe a química que faz os pensamentos.... Porque a biologia sabe que a argamassa que me compõe tem limites, A dor, se colocada em espera por outras questões mais urgentes, perde intensidade. Então faço algo. Exijo ao cérebro atenção para outra coisa. Não importa o quê ou quão ridículo. Mais tarde, provavelmente vem a quebra, O meltdown, o afogamento... Desisto e sinto a dor. Agarro-a.  Ainda estou vivo. Ainda sinto. Mesmo que dor, ainda sinto... A dor prova-me que ainda sou humano e que ainda vivo. Agarro-me a ela. E depois vem o cansaço. A dor sente-se presa e afasta-se e fica o mais grave cansaço. E eu suporto o cansaço porque não há mais que fazer ao cansaço além de o deixar estar co...

parte 1

É atirada ao material uma criança... Um bebé que viria a ser uma criança... À carne, ao físico, ao tempo e espaço. Depois, contextualiza-se e integra-se essa criança num todo... Um grupo de condicionantes e fatores de como é suposto ser tudo. Um status quo inescapável de outros seres semelhantes que surgiram antes... Expectativas, padrões, normalidades, regras e o indivíduo neófito submete-se naturalmente à força passiva dos tantos contra nada, como se não houvesse qualquer violência envolvida. Não é explicada qualquer existência de quebras ou excepções ao padrão... Até o indivíduo se aperceber que é, ele próprio, uma excepção em algo... Há nele uma latente fuga às normas e não sabe que a fuga às normas é em si mesma normal...  Este é o primeiro conflito real do ser: admitir-se excepção ou refutar-se enquanto tal. A uma criança contextualizada no tácito contato social e sobreimposto status quo, ser a excepção em algo fundamental como, digamos, um núcleo familiar standardizado, cons...