Os helénicos, aprendi eu numa qualquer aula de latim ou de cultura clássica, achavam aberrante a noção de submissão a fosse o que fosse. Se algo, Deus ou humano, te pedisse ou ordenasse uma posição de submissão e de voluntária fragilidade, não seria, pela lógica, tão poderoso quanto o que se suporia (um Senhor que precise que um servo se jogue por terra para mais comodamente o pisar, não terá tanto poder que não o consiga fazer com o servo de pé).
Quando Xerxes e outros invadiram as penínsulas e arquipélagos da Magna Grécia, os primeiros mensageiros levavam instruções de sugestões de submissão e rendição antes da guerra; isso era aberrante para o grego comum que estaria até disposto a negociar uma rendição mas nunca a submeter-se incondicionalmente.
Aos próprios Deuses locais, ao próprio Zeus, eram dirigidas preces, orações, sacrifícios e holocaustos de pé, cabeças erguidas; no alto da dignidade humana reconheciam-se os Deuses como superiores. Aos Deuses do Olimpo dirigiam-se preces e louvores com os braços levantados e palmas das mãos viradas para cima, aos do Hades, com os braços e palmas viradas para baixo; nunca de joelhos, nunca deitados sobre as barrigas, nunca numa posição indigna e submissa.
Isto soa-me tão correto, tão apropriado, tão decente, que as únicas alturas em que me ajoelhei desde então foram para brincar com o meu filho ou para tirar coisas debaixo de móveis.
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