Avançar para o conteúdo principal
É aquilo a que Occam chamaria "deitar fora o bebé com a água do banho" por falta de parcimónia. Simplificando, a ciência reconhece todo o método de análise que produza resultados mensuráveis e previsíveis com pouca ou nenhuma variação em cada reprodução.
É o método científico que nos permite saber que a água ferve a 100graus celsius à pressão atmosférica comum da beira-mar. É a mesma ciência que indica que uma vacina do tétano ou da rubéola, em 1000000 indivíduos vacinados poderá ter potenciado uma propensão genética para o autismo ou uma qualquer doença mental (em linhas demasiado simplistas). Pegar neste facto e gerar a afirmação que as vacinas provocam autismo é desonestidade intelectual, manipulação de informação e "fear mongering" de pessoas que irresponsavelmente pretendem fama e atenção a todo o custo, independentemente das consequências a médio/longo prazo.
Por outro lado, existe um conjunto de pessoas, religiosas, espiritualistas, céticas, etc., ansiosamente esperando que as provas se ajustem às suas teorias e mundividências, como aconteceu aquando da descoberta da partícula de Higgs no GCH ou do reconhecimento da validade científica da teoria do Big Bang. "Deus disse 'faça-se luz'" e ocorreu o Big Bang"... Ignoremos o facto de que "o espírito de Deus se encontrava sobre as águas" quando não havia água sobre a qual se pudesse encontrar antes do Big Bang, chama-se à teoria religiosa uma alegoria e esta permanece válida com a agravante de se arrogar validade científica.
A justificação mais racional deste comportamento quer por indivíduos quer por instituições pode depender da necessidade de comodismo racional e de identificação conceptual de grupo: Os crentes e os não-crentes, os religiosos e os espiritualistas, os agnósticos e os fanáticos, todos obedecem ao princípio de identificação cultural que lhes molda os comportamentos obrigando-os a defender acerrimamente as suas posições como as melhores. Os divergentes dentro dos arquétipos geram novas versões e teorias, angariando seguidores e granjeando maior reconhecimento social com as respetivas alvíssaras. Tudo depende de uma egoísta necessidade do Homem se ver reconhecido. Tudo é um exercício de massagem ao ego. Tudo se resume a afirmação pessoal. Mesmo a admissão de ignorância e o humilde reconhecimento do erro se for essa a apologia de perfeição e correção social em que o indivíduo se encontre.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Ele

Há momentos em que, sem perceba muito bem como, um "eu" desperta em dúvida e incredulidade...  É de madrugada. Pelas frinchas da persiana e através do vidro que separa o frio lá de fora do conforto de entre os cobertores, entram lâminas de luz amarela nascida do lampião do lado da rua. Do que se vê do céu, permanece escuro em conformidade com o esperado. E ele surge em mim com olhos de espanto... Acede ao eu para se reconhecer e saber quando e onde está mas é só ao que consegue chegar. Olha em volta... Analisa o que tenho ao meu redor e vê tudo... Não há malícia, nem má vontade, não há desagrado, não há desprezo... Há a admiração de não se aperceber como está onde estou.... "Como é que vim aqui parar? De onde este conforto? De onde a paz? Que foi feito ou que fiz eu para chegar a isto? De onde a força? Como a disciplina? Sorte?  E para onde daqui? Como continuar? Qual a direção ou sentido? Por onde?" E um novo acesso a mim o faz sondar-me a vontade e desejos... Um t...
Eu levo a bordoada. Calo.  Se consigo digerir, se a bordoada é pequena, sacudo o pó e sigo. Se não consigo, disfarço a dor.  Escondo-a no meu cérebro atrás de outros químicos, Dou covardemente tempo à minha mente tempo para não reagir, Oculto a reação em algo, seja o que for, desde que me ocupe a química que faz os pensamentos.... Porque a biologia sabe que a argamassa que me compõe tem limites, A dor, se colocada em espera por outras questões mais urgentes, perde intensidade. Então faço algo. Exijo ao cérebro atenção para outra coisa. Não importa o quê ou quão ridículo. Mais tarde, provavelmente vem a quebra, O meltdown, o afogamento... Desisto e sinto a dor. Agarro-a.  Ainda estou vivo. Ainda sinto. Mesmo que dor, ainda sinto... A dor prova-me que ainda sou humano e que ainda vivo. Agarro-me a ela. E depois vem o cansaço. A dor sente-se presa e afasta-se e fica o mais grave cansaço. E eu suporto o cansaço porque não há mais que fazer ao cansaço além de o deixar estar co...

parte 1

É atirada ao material uma criança... Um bebé que viria a ser uma criança... À carne, ao físico, ao tempo e espaço. Depois, contextualiza-se e integra-se essa criança num todo... Um grupo de condicionantes e fatores de como é suposto ser tudo. Um status quo inescapável de outros seres semelhantes que surgiram antes... Expectativas, padrões, normalidades, regras e o indivíduo neófito submete-se naturalmente à força passiva dos tantos contra nada, como se não houvesse qualquer violência envolvida. Não é explicada qualquer existência de quebras ou excepções ao padrão... Até o indivíduo se aperceber que é, ele próprio, uma excepção em algo... Há nele uma latente fuga às normas e não sabe que a fuga às normas é em si mesma normal...  Este é o primeiro conflito real do ser: admitir-se excepção ou refutar-se enquanto tal. A uma criança contextualizada no tácito contato social e sobreimposto status quo, ser a excepção em algo fundamental como, digamos, um núcleo familiar standardizado, cons...